Cidade
Operação do Corpo de Bombeiros retira ponteiros do relógio do Edifício Avenida

por Jaqueline Muza
Uma história de mais de 40 anos começa a ter novos rumos. Os ponteiros do do relógio do Edifício do Avenida, um símbolo da cidade de Bagé, foram removidos em uma operação do Corpo de Bombeiros. A ação aconteceu na manhã de sexta-feira. Uma equipe da corporação subiu no prédio com a ajuda de cordas, para o rapel, e realizou a retirada.
Conforme um dos incentivadores e mobilizadores da ação, Renato Azevedo, foram retirados, inicialmente, dois ponteiros do relógio, do lado sul. A operação necessitou de seis pessoas, incluindo os técnicos que irão reconstruir a máquina. “A retirada ajudará a medir o peso e a força necessária para mover o relógio e o tipo de motor necessário para arrumar a máquina”, relata.
Azevedo comenta que, desde 2004, tenta de alguma forma mobilizar e sensibilizar a comunidade para o conserto do relógio. Ele argumenta que o equipamento faz parte do patrimônio da cidade e não pode ficar sem funcionar. “Sonho em ver ele iluminado e funcionando”, reforça.
A mobilização em prol do funcionamento do relógio iniciou através de um grupo de amigos. Um dos integrantes, o bajeense Vitor Bicca, que é técnico em automação, se dispôs a realizar o trabalho. O conserto contará com apoio de alunos do curso de mecânica da Escola Estadual Frei Plácido, através do professor Lucas Oscar Janjar, e do Lions Clube Tradição.
Segundo o incentivador, pelo que foi possível acompanhar na retirada dos ponteiros, o maquinário para o funcionamento deve ser simples. Ele salienta que nos próximos dias já deve ter em mãos o orçamento e a partir daí começar uma campanha para a reconstituição do relógio.
A mobilização em prol de um dos símbolos de Bagé ganhou projeção em novembro de 2019, quando Azevedo e integrantes do Lions procuraram a síndica prédio, Neusa Camponogara, que acatou a proposta. Como o prédio é histórico, deve respeitar todas as normas para a manutenção.
As peças do maquinário, segundo Azevedo, estão comprometidas e devem ser substituídas por equipamento digital. “É um equipamento simples e pequeno. Nossa ideia é que seja elétrico e autossustentável, com a colocação de placas para gerar energia”, adianta.
Em 2017, chegou a ser lançada uma campanha para a restauração do relógio. Na ocasião, o reparo era avaliado em cerca de R$ 5 mil, para a restauração total da peça. Foi lançada a campanha na busca de patrocinadores, para os quais eram oferecidos espaços para publicidade. A ideia era restaurar exatamente como o original, mas a iniciativa não prosperou.
Símbolo de Bagé
A construção do Edifício e Cinema Avenida iniciou em 1955, dentro de um tema misto (cinema e edifício de apartamentos), como destaca a arquiteta Magali Collares, em sua dissertação de mestrado (Arquitetura Bajeense - o delinear da modernidade: 1930 – 1970, apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS). O Cine-Teatro Avenida foi inaugurado em 1957, cinco anos antes dos apartamentos, pela empresa Cupelo S.A, e só passou para as mãos do empresário Aristídes Kucera em outubro de 1959.
O cinema não estava funcionando em março de 1997, quando o antigo prédio rosado foi atingido pelas chamas. O cinema que foi destruído pelo fogo. O incêndio ocorreu nos fundos do prédio e acima da 6ª laje. Houve danos na estrutura de concreto armado no 9º, no 10º e no 11ª pavimentos, bem como nos tetos do 7º, do 8º , e do 9º andares. A maior gravidade foi no 10º pavimento. A ação do fogo causou fissuras nas vigas, nas lajes, lascamento do concreto e alteração na coloração em pequenos pontos. O relógio sobreviveu, em silêncio.
Conforme jornalista e coordenadora de Marketing e Divulgação do Lions Clube Bagé Tradição, Andréa Benchimol, além do relógio, que simboliza a história do Edifício Avenida, o próprio prédio traz um legado arquitetônico e cultural para a cidade. "são inúmeras famílias que já residiram nos apartamentos do prédio, ele abrigou no térreo o Cine Avenida, que por décadas foi um dos maiores cinemas do interior do Rio Grande do Sul", relata.